SURPREENDENTE – é o que se pode dizer da atribuição deste ano do Turner Prize, um dos mais importantes prémios de arte na actualidade. O britânico Richard Wright ganhou o Turner de 2009 preenchendo no limite as condições de candidatura, por causa dos seus 49 anos. O limite, abaixo dos 50 anos, reflecte a natureza do prémio, normalmente atribuído a obras e autores inovadores ou polémicos, como o de 1995 atribuído a Damien Hirst e à sua vaca embriagada, ou o de 1998 a Chris Ofili, com trabalhos que incorporavam esterco de elefante. Nada neste delicado mural, um fresco a folha douro, com contornos elaborados, que cobre as paredes da galeria, nos cria esse impacto, a que a arte contemporânea nos vem habituando. Uma certa monotonia deriva até dessa falta de desafio. No entanto, não nos iludamos: embora estejamos perante uma pintura aparentemente “bela” no sentido mais tradicional das belas-artes, ela só poderá ser vista até dia 3 de Janeiro, dia em que uma camada de tinta decidirá da sua destruição. É que o premiado é um artista do efémero, não tenciona que as suas obras lhe sobrevivam.
O efémero é o “tom de época” e, portanto, está presente também na arte contemporânea (da Land Arte, às performances, às instalações, aos happenings, à arte Urbana). Não é menos verdade que o homem se habituou a atribuir à arte a qualidade de captura da memória e do eterno, que a consciência da sua precaridade tanto o faz necessitar. Com que desvelo se guardam desde sempre fragmentos de pedra, de laca, de talha, de tela, que, por transportarem até nós a imortalidade impossível, são guardados quais relíquias em “templos”- os novos templos: os museus. Das pinturas de Richard Wright, no entanto, só restarão os registos. Mas será que o “fantasma da obra” equivale à obra original? Será a sua aura potenciada pela sua imaterialidade e precaridade? Tudo indica que sim. Diz o autor na sua entrevista à BBC: “A fragilidade dessa existência, [o facto de] estar aqui por um tão curto período de tempo, penso que intensifica a experiência de estar aqui”; confirma o jurí, que as pinturas de Wright “ganham vida quando são experimentadas pelos espectadores”. Mas Richard Wright diz também na mesma entrevista: “Estou interessado em colocar a pintura numa situação em que colida com o mundo”. O trabalho premiado (Untitled), que demorou cerca de 4 semanas a realizar, através de um processo que o autor considerou intenso, (a obra tem um processo complexo de produção porque a parede é pintada à maneira dos afrescos renascentistas, através de furos previamente feitos no suporte em que foi desenhado) “é também um desafio à sua comercialização”, acrescenta. Como lidará o portentoso mercado das artes, sempre tão exigente em termos de inovação, com esta pintura que vai deixar de existir? Wright não é, contudo, totalmente desprevenido: o seu galerista é dos mais famosos do mundo e existem alguns murais seus não com uma natureza menos “efémera”.
A posição desafiadora de Richard Wright face ao mercado e face à imortalidade, assim como o regresso da pintura, do formalismo, da perícia, do belo, não deixam de dar a esta atribuição um tom “refrescante”. [Cristina Teixeira]
O efémero é o “tom de época” e, portanto, está presente também na arte contemporânea (da Land Arte, às performances, às instalações, aos happenings, à arte Urbana). Não é menos verdade que o homem se habituou a atribuir à arte a qualidade de captura da memória e do eterno, que a consciência da sua precaridade tanto o faz necessitar. Com que desvelo se guardam desde sempre fragmentos de pedra, de laca, de talha, de tela, que, por transportarem até nós a imortalidade impossível, são guardados quais relíquias em “templos”- os novos templos: os museus. Das pinturas de Richard Wright, no entanto, só restarão os registos. Mas será que o “fantasma da obra” equivale à obra original? Será a sua aura potenciada pela sua imaterialidade e precaridade? Tudo indica que sim. Diz o autor na sua entrevista à BBC: “A fragilidade dessa existência, [o facto de] estar aqui por um tão curto período de tempo, penso que intensifica a experiência de estar aqui”; confirma o jurí, que as pinturas de Wright “ganham vida quando são experimentadas pelos espectadores”. Mas Richard Wright diz também na mesma entrevista: “Estou interessado em colocar a pintura numa situação em que colida com o mundo”. O trabalho premiado (Untitled), que demorou cerca de 4 semanas a realizar, através de um processo que o autor considerou intenso, (a obra tem um processo complexo de produção porque a parede é pintada à maneira dos afrescos renascentistas, através de furos previamente feitos no suporte em que foi desenhado) “é também um desafio à sua comercialização”, acrescenta. Como lidará o portentoso mercado das artes, sempre tão exigente em termos de inovação, com esta pintura que vai deixar de existir? Wright não é, contudo, totalmente desprevenido: o seu galerista é dos mais famosos do mundo e existem alguns murais seus não com uma natureza menos “efémera”.
A posição desafiadora de Richard Wright face ao mercado e face à imortalidade, assim como o regresso da pintura, do formalismo, da perícia, do belo, não deixam de dar a esta atribuição um tom “refrescante”. [Cristina Teixeira]