"Em tocar tem uma encosta; paralém, mar aberto. Questão que é também puro não-ser, insonte-bufo. Porém puro paralém da conversa que travam nossas carnes. Nossas peles que se galanteiam, se suspiram, se palram tempos indescritivelmente longos, se mostram pragas e chagas abertas com ciência e casualidade ( admito: alguma ternura ). Que se acendem cigarros com dedos grudentos. Estendido por tão longe, a vista perde e acusa bruxaria. Feitiço. Misticismo barato. Mas é o que nos arrosta; o interrabang do futuro. Minha empresa corrente: tentar uma dimensão cautelosa desse selvagem. Percebo que o presente me amarga, e do passado nada ouso que não seja loucura.
Ah minha severidade. Perfura de ponta a ponta a paisagem cometida por nossos corpos. Proclama-se estado de calamidade privada. Pícolas demolições e reprojetos, trilhões por segundo, vai levando: vai levando meu peito, vai sirgando meu peito partido gritado fodido mal-pago mar aberto adentro dobrando boas e más esperanças não tenho o que dar salvo presença e vê lá.
Que a verdade é te ver sorrindo, alerta, alegre, jogando com a altura das próprias sobrancelhas. Martelando sua máquina de escrever, Rádio MEC chiando baixo num canto do quarto, funda noite de Botafogo nimbando tua cabeça monumental."
(Tirelli Neto)
Ah minha severidade. Perfura de ponta a ponta a paisagem cometida por nossos corpos. Proclama-se estado de calamidade privada. Pícolas demolições e reprojetos, trilhões por segundo, vai levando: vai levando meu peito, vai sirgando meu peito partido gritado fodido mal-pago mar aberto adentro dobrando boas e más esperanças não tenho o que dar salvo presença e vê lá.
Que a verdade é te ver sorrindo, alerta, alegre, jogando com a altura das próprias sobrancelhas. Martelando sua máquina de escrever, Rádio MEC chiando baixo num canto do quarto, funda noite de Botafogo nimbando tua cabeça monumental."
(Tirelli Neto)